Gastronomia, Música e filme do Marrocos por Alcenio Roieski
O Marrocos estava no meu radar desde 1990, quando vi um filme que me marcou muito, chamado “O céu que nos protege”, do diretor italiano Bernardo Bertolucci. Baseado em um livro do escritor Paul Bowles, que morou mais de 50 anos no Marrocos. Este filme ficou na minha memória, desde então e me inspirou nesta viagem. Mesmo sendo filmado em partes na Argèlia e Nigéria, tem diversos momentos filmados em Ouarzazate, no sul do Marrocos. A porta de entrada para o deserto do Saara, tive o prazer de incluir nas minhas viagens por lá.
Um pouco de história do Marrocos
A história do Marrocos é cheia de reviravoltas e influências, desde tribos bérberes, árabes muçulmanos fugindo da Andalucia, até o domínio francês no século XIX. Todas estas influências convergem para fazer o Marrocos moderno, o melhor exemplo disto é a deliciosa gastronomia marroquina, que irei falar mais adiante.
O escritor beatnik William S. Burroughs, escreveu no Marrocos sua obra proibida mais famosa, “Almoço Nu”. Os Rolling Stones estiveram por lá, fazendo festas famosas de arromba nos anos 70. Em 1966, o estilista Yves St Laurent foi muito influenciado pela cultura marroquina. Muitos outros artistas, escritores e aristocratas boêmios, atraídos por seus cafés libertinos, contribuiram para sua reputação de lugar do pecado, de algo exótico e misterioso.
O escritor beatnik William S. Burroughs escreveu no Marrocos sua obra proibida mais famosa: Almoço Nu. Os Rolling Stones estiveram lá fazendo festas famosas de arromba nos anos 70. Em 1966 , o estilista Yves St Laurent foi muito influenciado pela cultura marroquina e muitos outros artistas, escritores e aristocratas boêmios atraídos por seus cafés libertinos contribuiram para sua reputação de lugar do pecado de algo exótico e misterioso.
O estilista Yves St Laurent
Nos anos 80 o estilista Yves St Laurent deixou sua marca definitiva no Marrocos, comprando em Marrakech o jardim botânico Jardin Majorelle, o qual pertencia ao pintor francês Jacques Majorelle. Logo tornou-se um dos passeios obrigatórios na cidade, contribuiu ainda mais para a fama da cidade. Marrakech torna-se um must go dos globetrotters e socalites.
O estilista morreu em 2008, suas cinzas foram jogadas nos jardins deste parque. Recentemente, em 2017 foi inaugurado em Marrakech o Museu Yves St Laurent, rue Yves St Laurent, com exposição permanente importante.
Atualmente o Marrocos está mais comportado, a hotelaria é de altíssima qualidade, desde Four Seasons Hotels a rede Mandarim Hotels. Muito mais organizado para turismo que nos anos 50, mantém ainda um certo clima de mistério e exotismo, não perdeu sua forte cultura com o avanço da globalização.
Meu destino inicial foi Marrakesh, fiquei em um dos hotéis mais emblemáticos do Marrocos, o icônico LA MAMOUNIA HOTEL.
Aberto em 1923, quando o Marrocos era ainda protetorado Frances, misturando arquitetura tradicional marroquina e estilo Art Déco. Desde então nomes como Edith Piaf, Marguerite Yourcenar, Elton John, Marlene Dietrich, Yves Saint-Laurent e Paul McCartney, já desfrutaram do luxuoso palácio, membro do “The Leading Hotels of the World”, referência de excelência no mundo hoteleiro.
Próximo ao hotel, fui passear a pé pela praça tombada pela Unesco, chamada Djemaa el-Fna, na medina, e no souk (mercados) com seus vendedores insistentes. Uma experiência com direito a encantadores de cobras, muitos cheiros e comidas vendidas em barracas. Demais populares para meu gosto, preferi experimentar a cozinha marroquina no Restaurante Le Marrocain. Nos lindos jardins do La Mamounia Hotel. Foi lá que experimentei a primeira vez o tagine que explico a receita adaptada no final deste post.
Depois segui para o sul, para outro hotel que é uma experiência, chamado Dar Ahlam em Ouarzazate. Pertence a rede francesa Maison des Rêves. Um antigo Kasbah, casas. Os casbás são espaços fortificados de origem berbere. Com serviços exclusivos, preparam surpresas todos os dias, tornado a experiência local para ficar na memória para sempre. Rêve em francês significa sonho.
Falando em gastronomia, Tagine Marroquino
Presente de norte a sul no Marrocos, este prato encapsula a influência das culturas berbere, árabe e européia. O nome deste prato, é uma homenagem ao mesmo nome da panela de barro cônica e exótica, onde é cozinhado.
Na minha receita usei uma panela de ferro esmaltada, deu muito certo! Importante mesmo é cozimento lento,em fogo baixo, com tampa fechada para os líquidos retornarem ao caldo.
O tagine pode ser de diversos tipos de carnes, desde cordeiros até frutos do mar. Prefiro o TAGINE DE FRANGO, é mais suave para o paladar brasileiro, mais caseiro e fácil de encontrar em tempos de pandemia.
As especiarias utilizadas na receita são variadas, como canela, cominho, gengibre, açafrão. Torna o que era um simples cozido de frango, em uma quase experiência de viagem sensorial.
Este prato é servido tradicionalmente com couscous marroquino. Fácil de encontrar nos supermercados brasileiros nos dias de hoje. Acompanhado de chá de menta quente ou frio, prefiro com um vinho branco gelado.
Outro acompanhamento comum é com pão, sugiro uma boa baguete comprada na melhor padaria do seu bairro, deixe seu tagine mais líquido. NUNCA use arroz para acompanhar, pois destoará completamente do clima marroquino, que desejamos neste roteiro virtual.
Sua lista de compras
Duas cebolas brancas grandes;
Três folhas de louro;
2 paus de canela inteiros;
1,5 kg de sobrecoxas sem pele, se preferir outra, parte evite o peito;
Duas ou três peras grandes e firmes, mas maduras;
1 colher de chá bem servida de coentro em pó;
1 colher de chá bem servida de sal;
1 colher de chá bem servida de cominho em pó;
1 colher de chá bem servida de açafrão;
7 colheres de sopa bem cheias de azeite de oliva;
30 gramas de manteiga para dourar as pêras;
2 colheres de sopa grandes bem servidas de gengibre;
Duas colheres de sopa de mel;
1 maço grande de coentro fresco;
Uma caixa de couscous marroquino;
Uma garrafa de vinho para acompanhar (veja sugestão abaixo).
Algumas pessoas consideram o Coentro forte demais, mas devo dizer que nesta receita o sabor do coentro some, pois as outras especiarias acabam predominando. Pode usar sem medo e coloque menos caso não goste.
A preparação
- Fatie as cebolas pela metade e depois de comprido;
- Descasque e pique o gengibre, pique o maço de coentro fresco, confira se tens todos os ingredientes acima, separe todos perto de você;
-Na panela de fundo pesado, refoge a cebola com três colheres de azeite de oliva, até amaciarem;
-Espalhe a cebola refogada no fundo de uma panela de ferro, como uma cama;
-Coloque o frango em cima da cama de cebolas na panela;
Em uma tigela pequena junte o açafrão, o cominho em pó, o coentro em pó, o sal e o resto do azeite. Misture bem até formar uma pasta mole.
-Passe esta pasta bem espalhada no frango que está na panela;
-Espalhe em cima do frango os paus de canela, as folhas de louro e o gengibre picado. Por fim cubra com todo o molho de coentro fresco picado;
-Espalhe meio copo de água em cima de tudo, tampe a panela e deixe em fogo baixo. Bem baixo por uma hora mais ou menos, SEM MEXER, sem fazer movimentos. Somente controle a água, caso tiver pouca adicione um pouquinho ainda sem movimentar a comida. Não abra muito a panela. Panela sempre fechada, fogo baixíssimo. Cozimento lento sem mexer é importante para seu sucesso.
Enquanto o frango cozinha, descasque as peras em quatro fatias longitudinais, tirando o miolo delas, refogue com manteiga e azeite. Quando estiver bem douradas por fora, coloque o mel na frigideira. Refogue mais um pouco para espalhar o mel e desligue. Estas peras devem ser espalhadas quentes em cima do frango no momento de servir, faz toda a diferença.
Verifique o tagine de frango, que já deve estar meio pronto, experimente se precisa sal ou uma pimentinha. Desligue o fogo e deixe no mínimo 5 a 10 minutos desligado, antes de servir, com a tampa fechada para os sabores se acomodarem.
Prepare o couscous marroquino, conforme instruções na caixa. É super rápido e demove cinco minutos.
Jogue as peras com mel em cima do tagine, já na travessa ou panela, onde for servir e sirva imediatamente.
Musica, filme e vinhos recomendados
Para iniciar a receita, recomendo colocar uma musica marroquina no streaming do Spotify ou outro aplicativo qualquer. Para algo calmo e clássico, recomendo encontrar pelo título “The Sheltering Sky Original Soundtrack”, autoria de Ryuichi Sakamoto. A trilha sonora deste filme de 1990, no Brasil recebeu o titulo estranho “O Céu que nos Protege”.
Aliás, este é o filme que recomendo para ver depois ou durante o jantar. Encontra-se somente em uma tecnologia antiga, chamada DVD, ainda a venda online no Submarino e Americanas.
Coloque para gelar a 7 °C o vinho branco. Recomendo o Casa Silva 3 Cepas Reserva, um delicioso e leve assemblage de Sauvignon Blanc, Chardonnay e Viognier. Caso prefira tinto sugiro o vinho D.V Catena Malbec, nunca envergonha na temperatura de 14°C.
BOA VIAGEM AO MARROCOS VIRTUALMENTE!